Furacão Irma | Um dos maiores sustos da minha vida
É claro que prefiro sempre falar sobre os destinos onde vou.
Ou contar histórias engraçadas ou surreais que me acontecem.
Mas, quem viaja sabe que nem sempre as coisas correm como planeamos.
Já muito vos falei da Jamaica (posts aqui) aqui no blog.
E pensei muito se haveria de falar nisto ou não, uma vez que é um tema que eu não gosto muito de relembrar.
Para quem não se recorda, o furacão Irma aconteceu em Setembro de 2017 e bateu (infelizmente) recordes enquanto fenómeno meteorológico, mas também em termos humanos.
Atingiu o Estado da Flórida (EUA) e várias ilhas das Caraíbas, aliás, “varreram” várias ilhas das Caraíbas.
Mas o furacão Irma não chegou sozinho, fez-se acompanhar pelo furacão José e pela Maria.
O resultado foram imensas mortes e zonas completamente devastadas.
Nessa altura eu fazia parte daquele grupo de portugueses que estavam nas Caraíbas.
A Jamaica não foi a zona mais afectada, mas foi, com certeza, uma das zonas menos preparadas para uma catástrofe desta dimensão.
Este tipo de coisas chega sem avisar…
Vou contar como me apercebi que algo de estranho se passava.
Comecei por ver os americanos sempre a olhar para os telemóveis, sem entender bem porquê…
E quando tentava perceber o que eles estavam a ver, parecia um mapa, mas com cores amarelas e vermelhas…
Eles com ar muito preocupado, com um silêncio incomodativo e o suspense mantinha-se.
Depois começo-me a aperceber que as pessoas procuram televisões para ver qualquer coisa que eu não sabia bem o quê.
Até que percebo que as televisões estão todas num canal onde está a mostrar cenários surreais de árvores a voar, de mares a transbordar auto-estradas…
Por segundos pensei que era um filme, de repente caí em mim e comecei a perceber a preocupação dos americanos.
Aqueles noticias eram de ilhas no Sul das Caraíbas e estava previsto que o furacão iria passar por Porto Rico (um território americano) e pela Flórida, sendo que muitos deles seriam daquelas zonas, ou teriam familiares lá.
E as coisas começam a mudar. E começam a mudar bem perto de mim.
Aquele mar azul cristalino e o areal branco maravilhoso começa a ficar diferente…
O céu começa a fechar, literalmente a fechar. A ficar negro!
De um lado fica negro, contrastando com o azul que teimava ficar do outro lado, mas por pouco tempo.
O mar também deixa de ser o mesmo, aquele pano azul clarinho, começa a ficar muito alterado… quase como se se estivesse a revoltar.
Começam a aparecer peixes mortos a boiar, pedaços de madeira…
E informações concretas não haviam…
As notícias que chegavam davam ar de ser longe dali…
Nunca pensamos que estamos tão perto daquela tragédia toda que se falava na televisão.
É o velho cliché: Isto só acontece aos outros!
Na Jamaica eles têm um slogan que seguem à risca, independentemente do que esteja a viver: “Jamaica, no problem!”
O que numa situação destas não é o que precisamos como é óbvio!
E, a cada momento, as coisas mudavam.
Os ventos mais fortes, o mar mais bravo e com cada vez mais coisas a boiar, o céu cada vez mais negro…
E de repente, aquilo não parecia as Caraíbas!
Sempre que me dirigia a algum jamaicano, diziam que há uma montanha que os protege e que nada iria acontecer.
Talvez porque são muito adeptos de fumar erva, faz-lhes ter essa falta de discernimento…
São um povo completamente despreparado e sem qualquer tipo de plano seja para o que for!
Aquele extensão de areal começa a ficar cada vez mais curta e o mar a apoderar-se de tudo…
Os aviões começam a ser mais que muitos a passarem muito perto do solo (ao contrário dos dias anteriores, era possível ver o nome dos avisões quando passava por cima da nossas cabeças) na aproximação ao aeroporto, que ficava perto de onde estava alojada.
Que mais tarde percebi porquê… o espaço aéreo ia fechar.
Começa a chuva, mas a chover à séria…
As árvores com o vento, dobravam como se fossem varas finas!
Estava mais ou menos tranquila, porque o dia seguinte, era o dia da partida.
E lá, as informações não eram as mesmas, das que passavam no resto do mundo…
Então, eu achei que no dia seguinte virava costas àquele inferno e que essa experiência não iria passar de uma história para contar.
Mas não! Obviamente o espaço aéreo estava fechado…
Fomos evacuados e como a Jamaica deve ser dos poucos países das Caraíbas que não tem grande plano de contingência para coisa nenhuma, o evacuamento foi num sítio à beira-mar!
Ridículo não e? Pois é! Mas na Jamaica é assim…
Pedi ajuda a tudo e a todos para tentar sair dali… mas eu não fazia ideia do estado crítico da situação.
Havia pouca internet, e as notícias que nos chegavam, era mínimas.
Mínimas e sem noção que já andavam mais dois furacões na mesma rota.
De repente, estávamos ali, sem saber o que iria acontecer e estão três furacões em força a destruir tudo e mais alguma coisa.
E o pior? Sem saber, se a qualquer momento, viriam para o nosso lado…
Não quero detalhar até porque, felizmente isto não acontece muitas vezes.
Mas tive medo, muito medo…
Vi árvores a virarem-se de pantanas…
Vi uma onda a entrar pelo hotel dentro e a levar os sofás, plantas, bancos e tudo mais pelo mar dentro…
Vi tantas pessoas a chorar que não sabiam dos familiares…
Estive abraçada a um senhor cubano, que chorava porque não sabia da família há 2 dias…
Haviam vários portugueses tanto na Jamaica, como noutras ilhas das Caraíbas em pânico para voltar.
Enfim, para mim, foi muito difícil de gerir esses dias…
E ainda hoje, quando penso nisso, fico angustiada…
O voo de regresso foi horrível…
E, quando cheguei e olhei para Lisboa, desabei num choro que era um mix de felicidade, alívio e de uma dor imensa por quem tinha morrido e por todos aqueles que perderam tudo.
Não fiquei com medo de viajar, até porque, um mês depois, já estava novamente de volta às Caraíbas (a viagem já estava marcada há meses, senão não sei se voltaria tão cedo).
Mas voltei, vi o rasto de destruição que o Irma deixou e que na altura não tive noção e reparei que o rosto dos Caribenhos mudou.
Aquela alegria que outrora tiveram, estava como as ilhas que foram devastadas.
Estavam em reconstrução. Estavam a tentar apanhar os cacos…
Mas aprendi que a natureza quando quer, o homem não tem voz nem ordem.
Quero agradecer muito ao cônsul honorário de Portugal na Jamaica, que respondeu imediatamente aos meus e-mails, mesmo sendo Sábado, pela sinceridade de explicar o estado real e dramático da situação, pela preocupação e pela disponibilidade.
Podem ler mais posts sobre a Jamaica aqui:
Jamaica
Podem ler mais posts sobre as Caraíbas aqui:
Punta Cana
Cuba
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